domingo, 15 de junho de 2014

Uma década

Era um vez, um desejo ... um desejo tão forte e intenso que acabou virando realidade da forma mais extraordinária e inesperada possível.
Era uma vez uma menina, que não sabia se ainda era menina ou se já era adulta, no alto dos seus 20 anos, aterrissou em São Paulo pela primeira vez. O lugar era tão grande e tão encantador que a menina ficou embriagada, cheia dele ... não podia imaginar, que aquela sua viagem a trabalho era quase um presságio.
Era uma vez um pedido de casamento, que não foi bem um pedido de casamento, foi algo mais parecido com: vamos ali viver uma coisa nova? Não sabemos o que vai ser, como vai ser ... o estar junto basta.
Preparativos, despedidas, chegamos. Em pleno inverno. Muito frio. Era 2004.
Que cidade é essa que me devora e me alimenta? Um misto de sentimentos como: quero ir embora daqui e daqui não saio nunca mais.
São Paulo se revelava pra mim, a medida que eu me revelava pra ela.
Os primeiros anos foram difíceis, muito desafiadores. A imersão numa nova cultura não é fácil, é um exercício constante de desprendimento para estar aberto a padrões, pessoas, situações, a uma vida diferente da vida 'antiga'.
E ainda hoje é assim, ainda hoje esse exercício se faz presente.
Não é por acaso que pessoas de tantos lugares do Brasil e do mundo estacionam aqui, existe uma generosidade pulsante, um tanto quanto escondida mas que pulsa forte nos lugares e nas pessoas em São Paulo. Acredito que seja a energia do desejo coletivo dos imigrantes em encontrar aqui um novo ponto de partida, fazer daqui o seu referencial.
E não é que São Paulo é um referencial para um monte de coisas!
São Paulo foi e é generosa comigo.
Aqui encontrei amigos que me abraçaram e me acolheram, não por que são amigos da família, ou do colégio ou de infância, nos abraçamos e nos acolhemos porque somos amigos de alma e de ideais.
Em São Paulo evoluí profissionalmente e, como uma mãe que quer sempre o melhor do filho, São Paulo me proporcionou situações que me "forçaram" ao crescimento.
Fico um pouco sem entender quando alguns paulistanos dizem: Em São Paulo não se tem qualidade de vida! Pois afirmo com toda pompa e circunstância aqui tenho mais qualidade de vida, acesso a cultura, ao belo, a natureza e ao bem-estar físico, emocional, e espiritual do que tinha quando morava numa das cidades mais lindas e praieiras do Nordeste.
Não estou dizendo que é fácil ou que São Paulo me dá tudo isso (e um pouco mais) de 'mão beijada', não não... não seria São Paulo se fosse assim. Ela tem de tudo um pouco e cabe a mim sintonizar o meu desejo, as minhas preferências e crenças à São Paulo que mais se encaixe aos predicados que procuro e quero.
Hoje mesmo me perguntaram: mas você não tem vontade de ir embora daqui? Falando em querer e se eu pudesse escolher, só existe um lugar do mundo (e é bem longe daqui) que me faria sair de São Paulo, então a resposta, por enquanto, é não.

Aqui tenho tudo, sinto que pertenço a este lugar, sou agradecida pelo que venho me tornando nesses últimos 10 anos, pelas conquistas que tive e terei aqui.
São Paulo, em alguns dias nós comemoraremos nosso 10º aniversário, aqui está, em forma de poema o meu mais profundo agradecimento.


Quando menos esperei
Você arrebatou meu coração
Mesmo fria e chuvosa
Me tirou da solidão

Sai o frio, vem o Sol
E tu me carrega em seus braços
Enxuga as minhas lágrimas
Me faz reconhecer meus propósitos e caminhar sempre avante!

Quão generosa e bela és
Ó São Paulo querida
Que me abriga e me acalenta
E que me cura as feridas.
(Hellene, Junho 2014)

terça-feira, 3 de junho de 2014

O Grito - Inspirado no post da Rachel M. Stafford (Brasil Post)

Acompanho um Blog muito bacana chamado Ninguém Cresce Sozinho, é um Blog de 2 psicólogas (uma delas, a Verônica, uma pessoa muito querida pra mim) que tratam de questões do cotidiano sobre o papel dos pais e das crianças na família. Eu acho o nome do Blog fantástico pois, acredito que eu só me torno uma melhor mãe, esposa, filha, mulher e profissional quando me auto-educo, quando olho para mim e para minhas atitudes.

Bem, zapeando pela página delas no Facebook acabei me interessando por ler um artigo que elas compartilharam chamado "Uma importante lição sobre gritar com os filhos" escrito pela Rachel M. Stafford para o Brasil Post. Foi um soco no estômago.

Me vi em algumas cenas descritas pela Rachel e também me identifiquei quando ela disse que se "odiava naqueles momentos".

As vezes me sinto tão pressionada,  não pelos outros mas, por mim mesma, pelas imposições que me faço, pelas expectativas que crio sobre os outros e sobre as situações, pelos momentos que quero que sejam 'só meus' mas tem sempre alguém chamando: Mãe!!!!!, pelas coisas que tenho que arrumar, consertar, doar, fazer, não fazer ... além das TPMs, é claro! As vezes me sinto tão cheia que, acabo gritanto mesmo e, é sempre com as pessoas mais queridas principalmente com as meninas e são e sempre serão muito tristes esses momentos.

Lendo o texto da Rachel lembrei de um momento de generosidade e amor genuínos presenteado à mim pela minha filha mais velha.

Estava atravessando um momento muito difícil, a minha caçula acabava de nascer, se me recordo bem, tínhamos chegado da maternidade a apenas uma semana e eu me sentia péssima. Achava que não iria dar conta de educar e cuidar de duas crianças, me sentia mal comigo mesma e muito triste - tomei muito hormônio durante a minha última gestação pois a "apressadinha" queria nascer antes da hora  - era noite e estávamos na casa da minha sogra, derrepente me bateu uma tristeza profunda e chorava sem parar, estava deitada numa cama, quarto escuro, quando chega a Gabi e pergunta:
- Mamãe, o que você tem?
- Não é nada Gabi, a mamãe só está um pouco triste.
Ela sai do quarto e volta segundos depois com o cheirinho dela (uma fraldinha que ela usava para dormir), me cobre com o cheirinho, faz carinho no meu rosto e diz:
- Não fica assim não Mamãe, isso já vai passar.
A Gabi tinha 2 anos e 2 meses.

Ler esse artigo, me lembrar dessa passagem, contraiu e expandiu meu coração. Contraiu porque me fez lembrar que ainda grito com elas as vezes e que não quero, nunca, ver medo no olhar delas à mim e expandiu meu coração por que ele sempre fica assim quando vejo como as crianças são simples, profundas e autênticas quando expressam os seus sentimentos.

Logo quando terminei de ler o artigo, me veio na cabeça o quadro do Edvard Munch, chamado O Grito. Me vi um pouco nele...naqueles momentos quando grito minha boca se abre mas, de uma certa forma, meus ouvidos se fecham por que eu não quero me ouvir e conviver com toda aquela pressão que está dentro de mim. Quero, simplesmente, colocar algo para fora. Talvez se fixar na minha mente a imagem deste quadro me faça refletir e me ouvir, antes de gritar.