sábado, 8 de julho de 2017

Feliz Gurupurnima: uma Ode aos Gurus que já cruzaram e àqueles que cruzarão o meu caminho!

Quando eu tinha 13 anos, estava com a minha mãe e os meus irmãos num shopping a céu aberto em Salvador, que se chamava Aeroclube. Estava com muita dor de cabeça e depois de tanto andar, só queria ir para casa e dormir; Vontade diferente do resto da trupe que ainda tinha muita coisa interessante para ver e muita energia para queimar...entre um corredor e outro me deparei, mais uma vez, com uma loja de produtos orientais. Essas lojas tinham um poder de atração sobre os meus olhos. O Oriente sempre dançou pra mim, uma dança linda e envolvente, que me hipnotizava. Aquelas Deusas e Deuses...aquele elefante gordinho, com uma carinha simpática...aquele cheiro maravilhoso de incenso e suas músicas, sempre com um sininho a tinlintar ao fundo, tinham sobre mim o mesmo efeito da flauta mágica sobre os ratinhos, eternizada no conto de Emanuel Schikaneder.

Disse a minha mãe que a esperaria sentada no banquinho, que ficava estrategicamente posicionado na frente da loja, com uma vitrine colorida, recheada de livros. Sentei ali por alguns minutos, até que um livro de capa meio alaranjada "piscou" para mim e levantei pra vê-lo. Era o livro tibetano do viver e do morrer. Decidi entrar na loja e folhear um pouco o livro, tinha tempo e precisava de silêncio.

A vendedora logo veio em minha direção e perguntou o que havia comigo, segundo ela, minha cara não estava nada boa. Lhe contei sobre a dor de cabeça e ela me perguntou se podia me dar um pózinho "que cura tudo". Eu disse que sim e ela abriu uma caixinha cor de cobre bem pequena, que tinha um pó acinzentado com um cheiro maravilhoso. Pediu que eu abrisse a boca, jogou uma pitada e me convidou a ir à sobreloja onde me ensinaria a meditar por alguns minutos, garantindo que depois disso eu estaria ótima novamente. 


Eu, com 13 anos, me deixei conduzir - afinal, não era diferente dos ratos... - me sentia parte daquilo, era um reencontro. Ela me ensinou a respirar e pediu que ficasse ali por alguns minutos...não me lembro quanto tempo se passou, sei que fiquei imersa naquela respiração e que depois ouvi uma voz me chamando, era a vendedora. Descemos e ela me perguntou como estava a dor de cabeça que, inacreditavelmente, havia se dissipado. Curiosa lhe perguntei o que era aquele pó, ela me disse um nome esquisito (hoje sei que era vibuthi) e que seu Guru Satya Sai Baba lhe dera um pouco quando foi a Índia. Eu fiquei estarrecida, com  a história e com a figura peculiar do Guru da vendedora, que me explicou que Guru é um mestre que nos ajuda a fazer o caminho de volta a Deus. E que o seu Guru, Sai Baba, era um Sat Guru, um mestre iluminado.



Eu agradeci e sai da loja, minha mãe e meus irmãos já estavam lá fora exaustos e prontos para irem para casa.
Essa experiência me marcou profundamente, ela foi como uma chave que destravou um baú escondido lá no fundo do armário....

8 anos se passaram...a Yoga já fazia parte da minha rotina. Uma Yoga física, estética que conheci através de uma escola De Rose que ficava próxima à IBM e que foi o meu destino, 3 vezes por semana, por 5 anos. Onde, inclusive, cursei 2 dois 3 anos de curso de formação de instrutores de Yoga, quando, a vontade de ser mãe começou a bater muito forte.

Era janeiro de 2009 e eu estava na casa da Karin, minha cunhada, onde festejávamos mais um mês de vida do Frederico. Ela me deu de presente de aniversário um livro, A Autobiografia de um Iogue, de Paramahansa Yogananda, com uma dedicatória linda. O livro trouxe junto com ele um convite para conhecer uma outra face do Yoga, que não era mais da estética do corpo, mas sim, da estética da Alma.


E eu me apaixonei pelo Yogananda! Devorei o livro com uma fome que nem sabia que tinha. Depois do livro vieram as lições da Self-Realization Fellowship e uma tentativa de praticar aquelas lições e métodos de meditação, que faziam acender um sol dentro do meu coração e da minha mente.

( Foi assim que a Gabi e a Clarinha foram batizadas na Self e foi a partir disso que eu casei no religioso, também na Self, numa cerimônia em que o matrimônio é descrito como o compromisso de evolução espiritual que duas pessoas fazem uma com a outra.)

A yoga física que praticava perdeu o sentido quase que imediatamente...tinha que procurar outro lugar, outra prática, aquela já não fazia sentido, nos desconectamos. 

Uma casinha pequena, grudada no prédio que eu morava era uma escola de Yoga. A moça da recepção me disse que eu iria adorar as aulas do professor Brahmananda Das, que conduzia aulas de Iyengar. Ela tinha razão! Uma Yoga vigorosa, como eu gosto!! Amava as práticas, e ainda do lado de casa? Perfeito!

Agora já estávamos em Julho...numa aula dedicada à abrir o Anahata Chakra, o Chakra do coração, o Brahma olha para mim e diz: "abre esse seu coração Hellene, se prepara para receber, vamos, abre mais" ... e eu, comecei a chorar! Ainda não tinha contato para ele, mas estava grávida da minha primeira filha! Todos na aula ficaram super felizes!!!

Também lembro muito da reação da Karin quando contei para ela! Liguei e disse: ei, você vai ser tia! A reação imediata dela foi: "Lou, isso foi uma benção do Guru". Eu, tentava engravidar a um ano.

O Brahma me acompanhou como professor de Yoga durante toda a gestação e, também, durante toda minha licença maternidade, quando ele me dava aulas em casa, e embalava a Gabi no colo, cantarolando os mantras que saiam do seu celular. E foi assim na gestação da Clara, e também quando tive uma baita depressão pós parto depois que a Clara nasceu. 2 vezes por semana era a Yoga que me aprumava, seja ela ao fazer um asana ou ao lermos juntos uma estrofe do Gita - que o Brahma me deu de presente quando a Clara nasceu - fazendo aqueles versos entrarem no mais profundo do meu ser.

Foi ele, também, que me apresentou a Bhaktivedanta Swami Prabhupada e que meu deu um Japamala de Tulasi banhado no Rio Ganges. Praticamos juntos por muitos anos...o que conheço de Bhakti Yoga, conheci pelo olhar amoroso dele.

Era início de 2015 agora, praticávamos junto no atelier da querida Ana Pasternak e minha mãe tinha acabado de morrer. E foi junto do Brahma e da Ana que pratiquei muita Yoga em silêncio, com mantras lindos que faziam lágrimas escorrerem sobre meu rosto.

Alguns meses antes da morte da minha mãe, que se foi na noite de natal de 2014, tive um sonho. Sonhei que estava num lugar distante, com pessoas que não me eram familiares, todas sentadas "com perna de índio" de frente para uma mulher vestida de branco. Ela tinha uma pele negra e era muito simpática. Num determinado momento do sonho ela me chama e pede que a acompanhe para fora da sala...saímos e estávamos num pasto verde, imenso. Não tinha nada ao redor além de um grande poço. Ela me pediu que jogasse o balde. Assim o fiz. Depois me pediu que içasse. O que fiz com muito, muito esforço pois o balde era muito pesado. Quando vi o que tinha no balde fique irada! Perguntava a Sra vestida de branco o que deu nela para me mostrar aquilo?!? Quem era Ela que me mostrava aquilo? Ela, delicadamente, repousou suas mãos sobre meus ombros e disse que, um dia, iríamos ouvir muito uma sobre a outra. Acordei de supetão, as 3 da manhã, e não consegui dormir mais.

Na manhã seguinte, na IBM, ao folhear uma revista, vi a mesma senhora de branco com quem tinha sonhado. Se chama Amma, e era reconhecida na Índia como uma Sat Guru, a Guru do abraço.




Meu aniversário de 33 anos, janeiro de 2015, uma tristeza avassaladora tomava conta do meu coração. Naquele dia 17 de janeiro fui dormir cedo...não era uma boa companhia nem para mim, quem dirá para outras pessoas. Novamente sonhei com a Amma, que Ela me abraçava e sorria para mim, um sorriso que dissipava tudo. Tudo! Alegria, tristeza, tudo! Éramos só nós duas, num abraço profundo.
Depois desse sonho eu virei uma panela com água fervente...não conseguia entender o que eu sentia, só queria conhecer mais sobre essa Sra Amma e entender porquê sonhava com ela.

Perguntei à Karin e ela disse: Eu acho que ela é sua Guru.
Falei com o Brahma, que me disse a mesma coisa.

A Amma também me conduziu com sua flauta mágica...encontrar com Ela pessoalmente foi um momento indescritível, nenhuma palavra do meu repertório dá conta de descrever este momento.

Foi através da Amma que me aprofundei um pouquinho mais na meditação e me identifiquei com uma sanga (grupo)! Ah Amma! E que presente maior do que esta sanga eu poderia pedir?! Na verdade nem pedir eu poderia pois não imaginava que isso existia!

Foi durante um Satsang que eu experimentei, uma vez, um estado de meditação que nunca imaginei alcançar...através do grupo de música que entoava um mantra que me levou para dentro de mim, profunda e amorosamente.

Foi nesta sanga que encontrei irmãs de Alma que me entendem só com um olhar, com quem tenho conversas profundas e com quem dou risadas gostosas! Um amor tão tão profundo, que faz meu coração palpitar alto e forte enquanto eu escrevo estas linhas.

Através desta sanga conheci mais de Yoga, mais de servir ao próximo e mais de amor.









"Quando você tem um Guru é como viajar em um ônibus expresso. Você pode chegar mais rápido ao seu destino". Amma












Pratiquei mais Yoga com a Karini, minha eterna "prof Ammada", com aulas mais do que gostosas na companhia da Ana e de Kaliane. Fiz curso de Yoga restaurativo com a minha mais do que Ammada irmã Raquel e, foi através desta sanga que conheci a Punya, minha querida atual professora de Yoga.

Precisava escrever tudo isso para dizer que hoje é Guru Purnima, a noite da Lua que celebramos todos os nossos Gurus, todos os mestres que passaram pela nossa vida! E esse texto é uma Ode a todos que me conduziram até aqui! O meu muito muito obrigada!

E este Gurupurnima, para mim, ainda é mais especial! Esta sendo comemorado em família, aqui na Argentina, que em breve será o nosso lar. Eu não poderia deixar de agradecer à Rudolf, a Gabi e a Clara que também são meu e minhas Gurus e que nos próximos anos terão, ainda mais, minha dedicação.

Desejo, à todos vocês, um lindo Gurupurnima!!! Seja você da Yoga ou não, todos temos Mestres, muito Mestres, ao logo das nossas vidas. Que você possa dedicar alguns pensamentos de gratidão, nessa lua tão auspisiosa, aos seus.

Enquanto escrevia este texto, um mantra não saia da minha cabeça! Divido ele com vocês .... na minha mente ele soa com as vozes melodiosas e amorosas como se eu estivesse num Satsang da Amma. Jay Ma!






Om
Guru Brahma Guru Vishnu
Guru devo Maheshvarah
Guru sakshat param Brahma
Tasmai shri gurave namaha
(Guru Mantra)

Nenhum comentário: