sábado, 30 de abril de 2016

A história produzida num curso de histórias!

 

Eu sou fascinada por histórias, por contar, por ouvir, por algumas vezes me arriscar a criar ... sou fascinada como as histórias tem a capacidade de se deixar degustar, com todos os sabores e coberturas possíveis, como um presente, como uma verdadeira obra de arte que se deixa ser experiementada sem moderação.

Dediquei os meus dois últimos dias das férias a um curso delicioso: "Contar históras, alimentar o humano", lindamente ministrado pela Andi Rubinstein e pela Melanie Guerra, no Instituto de Desenvolvimento Waldorf.

Além de alimentar minha alma com uma história contada pela Andi, uma verdadeira contadora de histórias, daquelas que fazem a gente viajar e o tempo se perder, tive o prazer de recordar, remontar e recontar uma história e memórias próprias e de ouvir, me envolver e me vincular a histórias de outras pessoas mas, que de uma forma ou outra agora também vivem em mim.

E o trabalho foi árduo, difícil mas, igualmente prazeroso. Sem mais delongas, divido com vocês a história que criei.

***************** As pedras & o Caminho *****************
 
 
Era uma vez, uma moça que era bem casada e feliz.
Vivia com seu belo marido e suas duas filhas numa casa replete de árvores, flores e onde o cheiro de pinheiro adentrava pelas portas e janelas o ano inteiro.
 
Quando de repente, na noite mais estrelada do ano, naquela onde se comemora o nascimento do último rei que habitou esse mundo, a notícia da morte súbita da sua mãe lhe assolou com uma tristeza profunda e todo aquele colorido antes por ela vivido, se tornou pesar e lágrimas.
 
A jovem moça tentava levar sua vida, retomando suas atividades, daqui e dali procurava entender tudo que aconteceu.
 
Por que? Se perguntava mas, a resposta não encontrava.
 
Então, decidida, resolveu fazer um antigo caminho, por muitos já caminhado, até mesmo por São Tiago.
 
Foi um ano de preparo...
 
Primeiro dilema ... com quem ficariam as pequenas? A sogra e sua irmã logo se prontificaram! Mas não pensem que foi fácil! A jovem moça gostava de tudo do seu jeito, deixar suas filhas, por vinte longos dias, exigia muito desapego.
 
E o corpo então? Sedento e muito lento, com muito exercício e sacrifício logo foi tomando viço e em poucos meses estava pronto.
 
Seguindo uma tradição muito antiga, cinco pedras do seu jardim escolheu para levar consigo. Cada uma representava algo do seu passado, com cada um dos membros da sua família, que precisava ser perdoado. Dizem que quem leva essas pedras pro caminho e deposita na Cruz de Ferro tem o perdão dos pecados e que tudo de errado, tudo que precisa ser perdoado é nesse momento realizado.
 
Com pedras, mochila, bicicleta, marido e dois amigos ao seu lado, rumaram a França onde o caminho começa.
 
Já no primeiro dia, por destino ou pelo que lhe acredite, uma pedra bem pequenininha lhe atravessou o caminho e ela, que não estava no caminho a caminhar, pelo barranco desceu sem parar. Ó vida, pensou! Que fiz para merecer essa amargura? Será que levantar consigo? Será que uma pedra há de me tirar do caminho?
 
O barranco era cheinho de espinhos que vinham de pés de amoras então, além de espinhada, a moça ficou toda perfumada, com aquele cheirinho de amora que não saia mais de jeito nenhum!
 
Tratou de tirar os espinhos e seguir o caminho ...
 
Pedalou, pedalou, pedalou
Conversou, conversou, conversou
 
Até um furacão, em plena primavera, essa moça pegou em Compostela.
 
Mais uma ladeira ... só mais um pouquinho de força e lá estava a Cruz de Ferro. Quase não se via, de tão pequeninha e por causa da neblina que a encobria naquela manhã fria. Jogou suas pedras e rezou. Pediu de joelhos que qualquer mal que tivesse feito, fosse perdoado e assim desfeito.
 
Nesse dia, dormiu que nem uma pedra, de cansaço e de alívio.
 
Na manhã seguinte, nem podia acreditar quando viu o sol raiar. Não tinha mais chuva nem neblina nem sinal de furacão. E o caminho até Santiago agora era só reta ou descida, riacho e verde. Não tinha mais o peso das suas pedras e as pedras do caminho, conseguia perceber com adianto.
 
Ouvia o som dos passáros e da floresta, o cheiro doce e fresco do orvalho que tocava as plantas...sentia tudo...estava lá hora essa!
 
E assim a Santiago chegou e ao seu próprio caminho retornou.
 
*****************F I M*****************


3 comentários:

Solange disse...

Amo as estórias e as histórias.Esta é uma linda história.

Hellene disse...

Obrigada Sô! :)

My Mind Workshop disse...

Que lindo, minha irmã. Sua inspiração é um tesouro que deve estar sempre guardado no seu coração. Você é um exemplo de tenacidade, de resiliência.

Beijo, Seu irmão.