quinta-feira, 27 de outubro de 2016

I Love You...Aishiteru...Je t'aime...Te Quiero...Ich liebe dich...capitou o que eu te disse? Será?

Vivemos num mundo cada vez mais globalizado, multicultural, diferente e igual ao mesmo tempo.
Somos cidadãos do mundo, e isso é incontestável.

E este mundo ultra conectado me traz tanto encantamento quanto novas reflexões. Digo novas por que, de uma certa forma, acabo me deparando com situações tão novas que de vez em quando, como agora, me deixo envolver tanto por uma reflexão que preciso da ajuda do papel para organizar a meu pensamento.

Eu participo de grupos de WhatsApp, Facebook, Snapchat, Instagram, Twitter e, todas as mídias sociais que promovem uma enxurrada de interações, muitas vezes tenho a sensação de que, com algumas pessoas, tenho mais intimidade no ambiente virtual, do que quando nos encontramos pessoalmente.

Foi dessa percepção que comecei a notar uma coisa específica. Vocês já repararam que algumas pessoas fazem mais uso de palavras estrangeiras do que palavras de suas línguas nativas quando querem manifestar amor?

Será que quando essas pessoas falam: I love you, ou respondem um me too ao receberem um Eu te amo, elas realmente querem falar isso? Ou, quando se desculpam com um sorry... Agradecem com um thanks... Sério?! Será que as pessoas, realmente, conectaram os seus sentimentos a essas palavras? Like, they really mean it? (risos, desculpem-me, não consegui evitar!)

O que será que as impedem de iniciar, evoluir, concluir ou responder a uma outra pessoa em suas línguas de domínio? Naquela língua que lhe é natural e confortável?

Fico pensando ... Será que esse tipo de interação é um diálogo? As vezes, para mim, tem "cara" de monólogo, outras vezes de defesa ... Like (risos!) "hummm, respondo assim só para não deixar alguém sem resposta". Quem sabe pode ser um chiste? Sarcasmo também vale? E indiferença?

Não me lembro de quem é essa frase, ou se ela é um dito popular: 'só conseguimos expressar amor e ódio na nossa língua materna'. Concordo com ela! Acredito que é difícil conectarmos nossa mente, nosso coração e nossa ação (falar) de forma natural, numa língua que não é a da nossa naturalidade.

E quando digo naturalidade, isso não significa necessariamente que será a língua do lugar do qual eu sou natural, você sabe, é muito além disso. Mas sim, da língua utilizada para me formar como sujeito. Da língua utilizada para compor a linguagem que me constituiu, que me deu origem.

Gosto, da construção que Émille Benveniste defende na Teoria da Enunciação: "É na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito".

A dúvida ainda me acompanha: como dois sujeitos podem dialogar, sobre temas como o amor, por exemplo, utilizando uma linguagem que não lhe é natural, que não fez parte da sua constituição?

A ideia aqui não é procurar respostas ... ou entrar no campo binário - minado - do certo ou errado. E sim provocar uma reflexão: quando você utiliza uma outra língua, que não a sua materna, para comunicar algo, o que te levou a fazer essa escolha? Sejamos sinceros!

A nossa espontaneidade é diretamente proporcional ao nosso estado de conforto. Como ser espontâneo quando estamos fora deste lugar?

Quero terminar com um pensamento muito interessante do filósofo Jean-Jacques Rousseau e com um convite a pensar sobre ele e sobre toda essa reflexão que fizemos juntos até aqui:

"Não foi a fome nem a sede, mas o amor, o ódio
a piedade, a cólera que lhes arrancaram
as primeiras vozes"



*Belíssimo grafitte do artista, Bansky.

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